No evento da Datagro, especialistas discutem exportações, certificações, logística e mercados estratégicos do setor de bovinocultura de corte
Camila Santos, de São Paulo (SP)
O Brasil se consolida como referência mundial na produção de carne bovina, mas ainda enfrenta desafios para ampliar sua presença global. Esta foi a afirmação do painel “A carne brasileira pelo mundo”, um dos destaques do 5º Fórum Pecuária Brasil, realizado em São Paulo (SP) e organizado pela Datagro. Para debater assuntos como exportação, diversificação de mercados e estratégias do setor, a plenária contou com a moderação de Roberto Perosa, presidente da ABIEC, e com a participação de Alisson Navarro (Marfrig Global Foods), Mariana Inocente (RAMAX) e Pedro Bordon (Frigorífico Estrela).
Mariana Inocente, especialista no mercado chinês, destacou o papel estratégico da China: “Hoje, 90% do que exportamos para a China é commodity, cortes dianteiros voltados à indústria. O país está buscando produtos mais sofisticados, para churrascarias, hotéis e restaurantes, e o Brasil ainda precisa se adaptar a essa demanda.” Ela também comentou sobre a África, onde o Brasil ainda exporta cortes de menor valor agregado: “Atualmente exportamos rins, papilas e fígado, devido ao poder aquisitivo local, mas vemos oportunidade de crescimento à medida que o consumo e a renda aumentarem.”
Pedro Bordon, com vasta experiência no mercado chinês, reforçou a importância de aproximar indústrias e compradores locais: “Os jovens chineses estão mudando hábitos alimentares e impulsionando o consumo de carne bovina. A interiorização é um passo estratégico para atender esse novo consumidor.” Ele também destacou a abertura de novos mercados e a importância da certificação: “O reconhecimento de ação livre de aftosa sem vacinação foi uma premiação para todo o trabalho da cadeia e abre novas fronteiras para nossa carne.”
Alisson Navarro, da Marfrig Global Foods, abordou a capacidade da indústria brasileira de atender diferentes certificações e o potencial de crescimento das exportações: “Não existe indústria no mundo tão preparada quanto a brasileira, tanto em produtividade quanto em qualidade e cumprimento de normas sanitárias.” Ele ressaltou a relevância de investimentos em sustentabilidade, rastreabilidade e certificações Halal, fundamentais para atender o Oriente Médio, Sudeste Asiático e Europa.
Da esquerda para a direita: Pedro Bordon, CEO, Frigorífico Estrela; Roberto Perosa, da ABIEC; Mariana Inocente, International Trader, RAMAX e Alisson Navarro, Diretor de Exportação, Marfrig Global Foods (Foto: FeedFood)
A logística foi identificada como um desafio crítico. Pedro explicou que, embora o país enfrente gargalos em portos, ferrovias e rodovias, iniciativas privadas estão ajudando a mitigar os problemas: “A indústria privada, como a JBS, assumiu o aeroporto de Itajaí e investe em transporte ferroviário e cabotagem. Mas é preciso ação conjunta com governo para eliminar os gargalos e aumentar a competitividade.” Alisson complementou: “Trazer navios maiores significa reduzir custos de frete e aumentar a competitividade. Há uma longa jornada, mas vemos evolução e melhoria nesse tema.”
O painel também abordou a exportação de gado vivo. Pedro comentou: “É um mercado menor e que agrega menos valor do que a carne processada, mas há espaço para coexistência.” Ele destacou a necessidade de paridade regulatória entre carne e gado vivo, garantindo livre concorrência.
Sobre estratégias de exportação, Mariana detalhou que a RAMAX busca crescer mantendo 70% do volume voltado ao exterior e 30% para o mercado interno, diversificando mercados e pulverizando volumes. “Nosso foco é exportar, e estamos habilitando plantas em regiões estratégicas para ampliar o alcance, reduzindo a dependência de China”, afirmou.
O representante da Marfrig pontuou que o percentual de exportação brasileiro tende a se manter estável, com o mercado interno absorvendo eventuais ajustes. Pedro, da Estrela, destacou a evolução das capacidades produtivas: “Hoje, plantas matam 3.000 animais por dia e utilizam túnel contínuo de congelamento. O mercado interno ainda é muito importante, mas estamos atentos às oportunidades de exportação e à demanda global crescente.”
O painel evidenciou que o Brasil combina alta capacidade produtiva, excelência sanitária e inovação, mas precisa avançar em logística e diversificação de mercados. A atuação estratégica em mercados emergentes, aliada a investimentos em certificações e sustentabilidade, garante que o país continue liderando a produção e exportação de carne bovina, aproveitando o crescimento global da demanda e fortalecendo sua posição competitiva no setor.
Fonte: Camila Santos – Camila@dc7comunica.com.br