Cenário de custos altos obriga confinador a investir em qualidade

O ano, ao que tudo indica, será favorável à pecuária. Com a arroba batendo os R$ 300, o retorno a quem investiu na profissionalização seria líquido e certo não fosse a necessidade de lidar com o aumento brutal dos custos de produção. Ao confinador, soma-se o peso da reposição (75% do seu custo operacional), e a alimentação animal baseada em soja, milho e em seus subprodutos, valores que impactam diretamente no valor da diária/cabeça.

Conforme o consultor e analista de Mercado da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro, a margem da atividade, este ano, será definida pelo valor da arroba no segundo semestre, que apresenta, por enquanto, expectativas menos positivas do que na segunda metade do ano passado. Assim, para confinar em 2021, o criador precisa, primeiramente e antes de qualquer coisa, projetar o preço de venda do seu gado terminado. Somente a partir daí, conseguirá avaliar com clareza o quanto pode obter de retorno sobre o investimento, que virá, fique claro, somente para os confinadores que forem extremamente eficientes. “Essa será a única forma de rentabilizar o confinamento e a pecuária como um todo, que deverá começar a perder sustentação a partir do ano que vem por conta do aumento de oferta no mercado”, detalha.

Apostar em genética de qualidade para garantir um bom desempenho no cocho frente a diárias que, atualmente, giram entre R$ 14 e R$ 15 também é importante. A indicação é antecipar compras de insumos, garantir um boi magro de qualidade e fazer contratos travem os preços de venda. “Um ponto fundamental é monitorar expectativa de preço de venda para outubro e novembro, meses que concentram a entrega do boi gordo oriundo do confinamento”, lembra Ribeiro. Num exemplo hipotético, com arroba de R$ 288,30 projetada para mercado futuro de outubro, o especialista exemplifica o raciocínio necessário: “se pegarmos o preço do boi magro, hoje, simulando sua entrada no cocho em agosto, e sua engorda entre 90 e 100 dias à diária R$ 13,50, teremos um resultado positivo de R$ 209,65 por cabeça”, aponta. Com arroba sustentada em R$ 300, o resultado do mesmo animal se aproxima dos R$ 385/cabeça. Ao considerar diária em torno de R$ 14, o resultado cai para R$ 164,65/cabeça. E, se estiver em R$ 15,00, o lucro será próximo a R$ 75,00/cabeça.

Enxergar a realidade e não esperar o melhor momento de negociar é a orientação do presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), Maurício Velloso. “É muito importante você ver que não há possibilidade de comprar um milho que não está a R$ 80. Se você comprou a R$ 40, só se foi milho roubado ou só se você recebeu de herança da sua vó”, ironiza. Para manter-se na atividade, a dica é comprar ou vender pelos preços médios do mercado. “Você só sabe que o preço atingiu o máximo quando começa a cair.” É preciso, ainda, estar atento aos sinais do mercado, como o sobe e desce dos juros, a expectativa quanto ao dólar, a continuidade de auxílios financeiros governamentais à população, a taxa de desemprego etc. Fatores como esses podem trazer boas oportunidades para compras de insumos. “Sempre há uma inflexão na curva. Dificilmente, ela é 100% ascendente ou descendente. Nesses momentos, tem que estar atento ao seu interesse, se é comprar ou vender, pelo menos, para fazer preços médios”, indica o presidente da Assocon.

Ao criador dispuser de tecnologia para investir em pastagem, insumo colhido diretamente pelo boi, abre-se uma alternativa para driblar os custos de alimentação. Conforme Velloso, a depender da capacidade de colheita do animal, da fertilidade do solo e da qualidade da água disponibilizada ao rebanho, dentre outros, é possível, inclusive obter um custo de arroba colada entre R$ 120,00 e R$ 160,00.

Fonte: Revista AG

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