Blog do Hudson Silveira: A modernidade na inspeção sanitária está chegando

Neste blog e em algumas outras inciativas minhas no campo, com as empresas produtoras, venho falando bastante sobre o comportamento do consumidor nestes últimos tempos e, a partir destas observações, venho expondo projeções que poderão se tornar realidade. Converso com muita gente, especialistas em carnes, compradores de supermercados, exportadores, importadores, gerentes e vendedores do mercado interno, profissionais de marketing e, principalmente, consumidores; então são impressões colhidas no corpo a corpo. Temos várias ondas acontecendo. Vejo um engajamento desses consumidores na mídia social principalmente, e por muitas vezes, muito desinformados sobre muitas questões não só da carne, como do agronegócio como um todo, o que às vezes contrasta com informações de pesquisa que afirmam que o consumidor brasileiro é bem informado e toma decisões racionais de compra baseadas em origem de produção, sustentabilidade do processo produtivo, entre outras. Me desculpem, sou um pouco cético com relação a pesquisas, não fico satisfeito em olhar resultados, eles apenas são uma fotografia. Preciso saber a metodologia, o universo pesquisado para melhor entender os resultados antes de sair acreditando piamente neles. Como disse uma vez o ex-ministro da economia e professor Roberto Campos sobre pesquisas eleitorais, algo assim: pesquisas são como biquínis, mostram muita coisa, mas mesmo assim coisas importantes ficam escondidas. Não sou contra pesquisas, existem muitas bem feitas, porém, elas são apenas suporte para decisões. Antes de se questionar as respostas, temos de aprender a fazer as PERGUNTAS CERTAS. Hoje, existem milhões de dados disponíveis sobre vários assuntos, mas estes dados só se tornam úteis quando você faz a pergunta certa, sendo assim possível saber o que você realmente precisa deles.

Não há dúvida que o mercado brasileiro de proteína animal mudou e vem mudando nestes últimos dez anos, evoluiu-se muito. O conceito de marca pelos frigoríficos, principalmente de bovinos, era algo que se falava nas empresas, mas pouco se praticava na realidade dentro das plantas 15 ou 20 anos atrás. Falando de produto não processado, no mercado interno, o Friboi fui um pioneiro no marketing de massa da sua marca no setor de bovino in natura. Havia muito ceticismo naquela época sobre a efetividade do retorno do investimento em um mercado muito dinâmico com relação a um produto comum e comoditizado, com variações grandes de padrão de produto que se conseguia produzir durante o ano. Hoje, os custos de propaganda caíram muito e a efetividade aumentou consideravelmente no mundo digital. Ser fiel a um conceito de uma marca e que o produto entregasse constantemente esta promessa, era algo para alguns visionários. Isso foi muito mais realista no mercado de exportação que no mercado interno, até pelo imediato fator rentabilidade. Era mais fácil ver as marcas entregando consistência ao cliente e firmando seus conceitos no mercado internacional.

A modernidade vem chegando, e agora mais uma, e de forma inteligente ao meu ver. A proposta do Mapa de uma mudança no sistema de controle sanitário e inspeção nas plantas frigoríficas pode mudar o cenário da produção de alimentos, em especial na proteína animal, e vem acompanhada de um reconhecimento do setor sobre a maturidade e da responsabilidade que é produzir proteína animal. O Mapa projeta um futuro onde os produtores de proteína animal sejam os próprios controladores da qualidade e sanidade dos seus produtos. Bem, já me fizeram esta pergunta: será que os frigoríficos vão manter a qualidade dos seus produtos sem os inspetores do SIF diariamente nas plantas, mudando de inspeção para auditorias, protocolos e autocontrole? A minha resposta é que sim. As empresas estão melhorando seus sistemas de gestão e de governança, elas se aperfeiçoam mais e mais a cada dia para poder assegurar o tão conhecido compliance, que nada mais é que o cumprimento das normas e exigências legais para exercer a atividade. A produção de alimentos é uma atividade de grande responsabilidade. Produzir alimento para o mundo exige controles, testes, avaliações de risco, ações para garantir toda a cadeia de sanidade e qualidade exigida pelo mercado. Então digo que sim, são muito responsáveis. Não sendo ingênuo de afirmar que esta verdade é 100%, mas sim, talvez 99% ou próximo disto; em um mundo real, este 1% será banido do mercado pelos consumidores, que se encarregarão de colocar para fora da cadeia produtiva aqueles que não cumprem as normas, não entregam um produto com a qualidade esperada. Qualidade é uma medida subjetiva e tem o seu preço. Há mercado para toda qualidade. Mas a sanidade é diferente, em relação a ela nada abaixo de 100% de cumprimento das normas e leis é aceitável para os produtos que entram na cadeia alimentar, sem exceção. Não só os empresários, mas diretores, gerentes, supervisores, operadores que trabalham na atividade de produzir alimentos, são todos também consumidores do fruto do seu trabalho.

A responsabilidade vai aumentar para os frigoríficos se estas medidas forem implementadas? Esta pergunta ao meu ver não é a certa. Só pode produzir alimento quem for responsável, portanto a mudança na forma de condução da inspeção não aumenta ou diminui a responsabilidade para quem já é muito responsável na produção. A pergunta certa é o que as empresas vão poder fazer de forma a melhorar o processo produtivo, o produto para o consumidor, quando e se isto acontecer? No meu ponto de vista, as empresas vão ter maior flexibilidade, por exemplo, para decidir como e a que custo vão executar este trabalho e entregar o que é necessário para valorizar o seu produto. Para milhões de consumidores, as marcas vão ganhar cada vez mais importância no segmento de carnes, principalmente in natura, mas não se pode deixar de lado toda a parte institucional do segmento, lembrando o que foi citado acima, pois vários consumidores, por vezes, não sabem a marca que estão consumindo. É onde a cadeia de produção da carne bovina, de aves, suína, de pescado, do leite e derivados, ovos, enfim, terá de cada vez mais trabalhar ajudando a solidificar a imagem institucional de que ingerir proteína animal neste país, comer carne do Brasil, é saudável, é seguro.

Então quem são os clientes na realidade? Esta é uma pergunta certa a ser feita. Você sabe quem é o seu cliente?

Este cliente direto pode ser uma indústria de alimentos, um importador, um distribuidor, uma cadeia de restaurantes ou fast food, um varejista que tem suas próprias demandas e necessidades, entre outros fatores, que determinam a sua escolha pelo produto A ou B ou o fornecedor X ou Y, porém, no final da cadeia, alguém vai comer esta carne, uma massa enorme de clientes chamada consumidor final. Nesta nossa conversa de hoje quero focar nele, aquele que está, como o próprio nome diz, no final da cadeia de consumo. Quando seu cliente primário não é ele, existem aqueles que não se preocupam de verdade com o que ele pensa do seu produto, afinal de contas o importante é vender; claro que neste tipo de operação de venda B2B, muitas vezes, o consumidor não sabe qual é a marca do produto que está consumindo em um restaurante, uma lanchonete ou no churrasco. Mas não obstante isto, as empresas não devem se omitir de levar o que ele pensa em consideração. Afinal de contas a picanha foi preparada por alguma empresa no Brasil ou de fora. A asa de frango foi produzida por algum abatedouro de aves brasileiro. Ou o lombo suíno assado, também pode ser um fornecedor local. Por isso o mercado é seletivo, os bons não podem pagar pelos ruins. Em uma cadeia onde todos os atores são importantes, somente aqueles alinhados com as boas práticas produtivas e que têm compromisso com a responsabilidade da segurança alimentar podem fazer parte do time. Aqui a modernidade suporta a responsabilidade.

Sobre o autor

Hudson Carvalho Silveira é formado em Engenharia Química Industrial com MBA em Administração pela Fundace-USP. Possui experiência de mais de 20 anos no setor, em empresas como Wal-Mart Brasil, Bertin, JBS e Unifrango. Atualmente, é consultor internacional em agronegócios. silveira.hudson@ymail.com

Fonte: Carnetec

abrafrigo

Leave Comment