Na China, vender carne é um negócio para os gigantes?

“Ainda não conhecemos o chinês”. Dita em tom de lamento, a constatação do dono de um frigorífico brasileiro ilustra o problema dos recém-chegados ao cobiçado mercado do país asiático. É também uma indicação de que o jogo na China pode ficar mais concentrado nos grandes frigoríficos, que têm poder de fogo para lidar com os solavancos e estão mais acostumados ao mercado do país asiático. Para os médios frigoríficos, a montanha-russa chinesa teve início em setembro.

Exultantes com a habilitação de 17 abatedouros de bovinos do Brasil, muitos correram para vender, mas se descuidaram dos riscos de crédito e negligenciaram a sabedoria milenar do comércio chinês. Enquanto habilitava frigoríficos brasileiros para abastecer a demanda para o Ano Novo Chinês e atenuar os efeitos da peste suína africana sobre a oferta de alimentos, Pequim também liberava a carne de países pouco tradicionais no comércio de carne bovina. O resultado é que, poucos meses após euforia dos empresários brasileiros, os importadores chineses impuseram descontos expressivos — de até 30% — sobre cargas de carne que estavam a caminho dos portos, deixando pouca margem de negociação para os frigoríficos. Se os frigoríficos de médio porte tivessem ações listadas na bolsa, o estrago seria grande.

A despeito do impacto negativo sobre as ações dos três maiores frigoríficos do país, a percepção de fontes do setor é que, após o Ano Novo Chinês, serão os grandes frigoríficos os maiores beneficiados pela retomada da demanda do país asiático. Com acesso ao mercado chinês há anos, JBS, Marfrig e Minerva conhecem melhor o mercado e tinham as condições para atenuar a sazonal queda de encomendas que precede o Ano Novo Chinês. Os grandes frigoríficos também já tiveram de lidar com o estilo de negociação chinês. Em junho de 2016, ficaram quase 50 dias sem fechar vendas em meio a uma queda de braço com importadores do país asiático.

Fonte: Valor Econômico

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